terça-feira, 11 de março de 2008

Animais



Animais









Creio que poderia voltar a viver entre os animais...eles são tão plácidos e contidos

Às vezes paro e os encaro boa parte do dia.



Eles não sofrem nem lamentam sua condição,

Não ficam acordados no escuro chorando seus pecados,

Não me causam enjôo discutindo seus deveres com Deus,

Nenhum está insatisfeito...nenhum sofre da mania de possuir coisas,

Não se ajoelham diante de outro da sua espécie, nem de seus ancestrais que viveram há milênios,

Nenhum é respeitável ou infeliz em toda a terra.






- Walt Whitman

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Os Cães já Nascem Mestres












Por que os cães não vivem tanto quanto as pessoas?

Um belo relato...



Sou veterinário, e fui chamado para examinar um cão da raça Wolfhound Irlandês chamado Belker. Os proprietários do animal, Ron, sua esposa Lisa,e seu garotinho Shane, eram todos muito ligados a Belker e esperavam por um milagre. Examinei Belker e descobri que ele estava morrendo de câncer. Eu disse à família que não haveria milagres no caso de Belker, e me ofereci para proceder a eutanásia para o velho cão em sua casa. Enquanto fazíamos os arranjos, Ron e Lisa me contaram que estavam pensando se não seria bom deixar que Shane, de quatro anos de idade, observasse o procedimento. Eles achavam que Shane poderia aprender algo da experiência. No dia seguinte, eu senti o familiar "aperto na garganta" enquanto a família de Belker o rodeava. Shane, o menino, parecia tão calmo,acariciando o velho cão pela última vez, que eu imaginei se ele entendia o que estava se passando. Dentro de poucos minutos, Belker foi-se, pacificamente. O garotinho parecia aceitar a transição de Belker sem dificuldade ou confusão. Nós nos sentamos juntos um pouco após a morte de Belker, pensando alto sobre o triste fato da vida dos animais serem mais curtas que as dos seres humanos. Shane, que tinha estado escutando silenciosamente, saltou, "Eu sei porque." Abismados, nós nos voltamos para ele. O que saiu de sua boca me assombrou. Eu nunca ouvira uma explicação mais reconfortante Ele disse:

-"As pessoas nascem para que possam aprender a ter uma boa vida, como amar todo mundo todo o tempo e ser bom, certo?" o garoto de quatro anos continuou...
-"Bem, cães já nascem sabendo como fazer isto, portanto não precisam ficar por tantotempo."

-Os Seres Humanos têm muuuuito que aprender com eles!!!

sábado, 11 de agosto de 2007

OSHO OSHO OSHO

EGO, O FALSO CENTRO

"O primeiro ponto a ser compreendido é o ego. Uma criança nasce sem qualquer conhecimento, sem qualquer consciência de seu próprio eu. E quando uma criança nasce, a primeira coisa da qual ela se torna consciente não é ela mesma; a primeira coisa da qual ela se torna consciente é o outro. Isso é natural, porque os olhos se abrem para fora, as mãos tocam os outros, os ouvidos escutam os outros, a língua saboreia a comida e o nariz cheira o exterior. Todos esses sentidos abrem-se para fora.
O nascimento é isso. Nascimento significa vir a esse mundo: o mundo exterior. Assim, quando uma criança nasce, ela nasce nesse mundo. Ela abre os olhos e vê os outros. O outro significa o tu.
Ela primeiro se torna consciente da mãe. Então, pouco a pouco, ela se torna consciente de seu próprio corpo. Esse também é o 'outro', também pertence ao mundo. Ela está com fome e passa a sentir o corpo; quando sua necessidade é satisfeita, ela esquece o corpo. É dessa maneira que a criança cresce.
Primeiro ela se torna consciente do você, do tu, do outro, e então, pouco a pouco, contrastando com você, com tu, ela se torna consciente de si mesma. Essa consciência é uma consciência refletida. Ela não está consciente de quem ela é. Ela está simplesmente consciente da mãe e do que ela pensa a seu respeito. Se a mãe sorri, se a mãe aprecia a criança, se diz 'você é bonita', se ela a abraça e a beija, a criança sente-se bem a respeito de si mesma. Assim, um ego começa a nascer. Através da apreciação, do amor, do cuidado, ela sente que é ela boa, ela sente que tem valor, ela sente que tem importância. Um centro está nascendo. Mas esse centro é um centro refletido. Ele não é o ser verdadeiro.
A criança não sabe quem ela é; ela simplesmente sabe o que os outros pensa a seu respeito. E esse é o ego: o reflexo, aquilo que os outros pensam. Se ninguém pensa que ela tem alguma utilidade, se ninguém a aprecia, se ninguém lhe sorri, então, também, um ego nasce - um ego doente, triste, rejeitado, como uma ferida, sentindo-se inferior, sem valor. Isso também é ego. Isso também é um reflexo.
Primeiro a mãe. A mãe, no início, significa o mundo. Depois os outros se juntarão à mãe, e o mundo irá crescendo. E quanto mais o mundo cresce, mais complexo o ego se torna, porque muitas opiniões dos outros são refletidas. O ego é um fenômeno cumulativo, um subproduto do viver com os outros. Se uma criança vive totalmente sozinha, ela nunca chegará a desenvolver um ego. Mas isso não vai ajudar. Ela permanecerá como um animal. Isso não significa que ela virá a conhecer o seu verdadeiro eu, não.
O verdadeiro só pode ser conhecido através do falso, portanto, o ego é uma necessidade. Temos que passar por ele. Ele é uma disciplina. O verdadeiro só pode ser conhecido através da ilusão. Você não pode conhecer a verdade diretamente. Primeiro você tem que conhecer aquilo que não é verdadeiro. Primeiro você tem que encontrar o falso. Através desse encontro, você se torna capaz de conhecer a verdade. Se você conhece o falso como falso, a verdade nascerá em você.
O ego é uma necessidade; é uma necessidade social, é um subproduto social. A sociedade significa tudo o que está ao seu redor, não você, mas tudo aquilo que o rodeia. Tudo, menos você, é a sociedade. E todos refletem. Você irá à escola e o professor refletirá quem você é. Você fará amizade com as outras crianças e elas refletirão quem você é. Pouco a pouco, todos estarão adicionando algo ao seu ego, e todos estarão tentando modificá-lo, de modo que você não se torne um problema para a sociedade. Eles não estão interessados em você. Eles estão interessados na sociedade.
A sociedade está interessada nela mesma, e é assim que deveria ser. Eles não estão interessados no fato de que você deveria se tornar um conhecedor de si mesmo. Interessa-lhes que você se torne uma peça eficiente no mecanismo da sociedade. Você deveria ajustar-se ao padrão. Assim, estão interessados em dar-lhe um ego que se ajuste à sociedade. Ensinam-lhe a moralidade. Moralidade significa dar-lhe um ego que se ajuste à sociedade. Se você for imoral, você será sempre um desajustado em um lugar ou outro... Moralidade significa simplesmente que você deve se ajustar à sociedade. Se a sociedade estiver em guerra, a moralidade muda. Se a sociedade estiver em paz, existe uma moralidade diferente. A moralidade é uma política social. É diplomacia.
E toda criança deve ser educada de tal forma que ela se ajuste à sociedade; e isso é tudo, porque a sociedade está interessada em membros eficientes. A sociedade não está interessada no fato de que você deveria chegar ao auto-conhecimento. A sociedade cria um ego porque o ego pode ser controlado e manipulado. O eu nunca pode ser controlado e manipulado. Nunca se ouviu dizer que a sociedade estivesse controlando o eu - não é possível. E a criança necessita de um centro; a criança está absolutamente inconsciente de seu próprio centro. A sociedade lhe dá um centro e a criança pouco a pouco fica convencida de que esse é o seu centro, o ego dado pela sociedade. Uma criança volta para casa. Se ela foi o primeiro lugar de sua sala, a família inteira fica feliz. Você a abraça e beija; você a coloca sobre os ombros e começa a dançar e diz 'que linda criança! você é um motivo de orgulho para nós.' Você está dando um ego para ela, um ego sutil. E se a criança chega em casa abatida, fracassada, foi um fiasco na sala - ela não passou de ano ou tirou o último lugar, então ninguém a aprecia e a criança se sente rejeitada. Ela tentará com mais afinco na próxima vez, porque o centro se sente abalado.
O ego está sempre abalado, sempre à procura de alimento, de alguém que o aprecie. E é por isso que você está continuamente pedindo atenção.
Você obtém dos outros a idéia de quem você é. Não é uma experiência direta. É dos outros que você obtém a idéia de quem você é. Eles modelam o seu centro. Mas esse centro é falso, enquanto que o centro verdadeiro está dentro de você. O centro verdadeiro não é da conta de ninguém. Ninguém o modela. Você vem com ele. Você nasce com ele. Assim, você tem dois centros. Um centro com o qual você vem, que lhe é dado pela própria existência. Esse é o eu. E o outro centro, que é criado pela sociedade - o ego. Esse é algo falso - é um grande truque. Através do ego a sociedade está controlando você. Você tem que se comportar de uma certa maneira, porque somente assim a sociedade irá apreciá-lo. Você tem que caminhar de uma certa maneira; você tem que rir de uma certa maneira; você tem que seguir determinadas condutas, uma moralidade, um código. Somente assim a sociedade o apreciará, e se ela não o fizer, o seu ego ficará abalado. E quando o ego fica abalado, você já não sabe onde está, você já não sabe quem você é. Os outros deram-lhe a idéia. E essa idéia é o ego. Tente entendê-lo o mais profundamente possível, porque ele tem que ser jogado fora. E a não ser que você o jogue fora, nunca será capaz de alcançar o eu. Por estar viciado no falso centro, você não pode se mover, e você não pode olhar para o eu. E lembre-se: vai haver um período intermediário, um intervalo, quando o ego estará se despedaçando, quando você não saberá quem você é, quando você não saberá para onde está indo; quando todos os limites se dissolverão. Você estará simplesmente confuso, um caos.
Devido a esse caos, você tem medo de perder o ego. Mas tem que ser assim. Temos que passar através do caos antes de atingir o centro verdadeiro. E se você for ousado, o período será curto. Se você for medroso e novamente cair no ego, e novamente começar a ajeitá-lo, então, o período pode ser muito, muito longo; muitas vidas podem ser desperdiçadas... Até mesmo o fato de ser infeliz lhe dá a sensação de "eu sou". Afastando-se do que é conhecido, o medo toma conta; você começa sentir medo da escuridão e do caos - porque a sociedade conseguiu clarear uma pequena parte de seu ser... É o mesmo que penetrar numa floresta. Você faz uma pequena clareira, você limpa um pedaço de terra, você faz um cercado, você faz uma pequena cabana; você faz um pequeno jardim, um gramado, e você sente-se bem. Além de sua cerca - a floresta, a selva.
Mas aqui dentro tudo está bem: você planejou tudo. Foi assim que aconteceu. A sociedade abriu uma pequena clareira em sua consciência. Ela limpou apenas uma pequena parte completamente, e cercou-a. Tudo está bem ali. Todas as suas universidades estão fazendo isso. Toda a cultura e todo o condicionamento visam apenas limpar uma parte, para que ali você possa se sentir em casa. E então você passa a sentir medo. Além da cerca existe perigo. Além da cerca você é, tal como você é dentro da cerca - e sua mente consciente é apenas uma parte, um décimo de todo o seu ser. Nove décimos estão aguardando no escuro. E dentro desses nove décimos, em algum lugar, o seu centro verdadeiro está oculto.
Precisamos ser ousados, corajosos. Precisamos dar um passo para o desconhecido. Por um certo tempo, todos os limite ficarão perdidos. Por um certo tempo, você vai se sentir atordoado. Por um certo tempo, você vai se sentir muito amedrontado e abalado, como se tivesse havido um terremoto. Mas se você for corajoso e não voltar para trás, se você não voltar a cair no ego, mas for sempre em frente, existe um centro oculto dentro de você, um centro que você tem carregado por muitas vidas. Esse centro é a sua alma, o eu. Uma vez que você se aproxime dele, tudo muda, tudo volta a se assentar novamente. Mas agora esse assentamento não é feito pela sociedade. Agora, tudo se torna um cosmos e não um caos, nasce uma nova ordem. Mas essa não é a ordem da sociedade - essa é a própria ordem da existência.
É o que Buda chama de Dhamma, Lao Tzu chama de Tao, Heráclito chama de Logos. Não é feita pelo homem. É a própria ordem da existência. Então, de repente tudo volta a ficar belo, e pela primeira vez, realmente belo, porque as coisas feitas pelo homem não podem ser belas. No máximo você pode esconder a feiúra delas, isso é tudo. Você pode enfeitá-las, mas elas nunca podem ser belas... O ego tem uma certa qualidade: a de que ele está morto. Ele é de plástico. E é muito fácil obtê-lo, porque os outros o dão a você. Você não precisa procurar por ele; a busca não é necessária. Por isso, a menos que você se torne um buscador à procura do desconhecido, você ainda não terá se tornado um indivíduo. Você é simplesmente mais um na multidão. Você é apenas uma turba. Se você não tem um centro autêntico, como pode ser um indivíduo?
O ego não é individual. O ego é um fenômeno social - ele é a sociedade, não é você. Mas ele lhe dá um papel na sociedade, uma posição na sociedade. E se você ficar satisfeito com ele, você perderá toda a oportunidade de encontrar o eu. E por isso você é tão infeliz. Como você pode ser feliz com uma vida de plástico? Como você pode estar em êxtase ser bem-aventurado com uma vida falsa? E esse ego cria muitos tormentos.
O ego é o inferno. Sempre que você estiver sofrendo, tente simplesmente observar e analisar, e você descobrirá que, em algum lugar, o ego é a causa do sofrimento. E o ego segue encontrando motivos para sofrer... E assim as pessoas se tornam dependentes, umas das outras. É uma profunda escravidão. O ego tem que ser um escravo. Ele depende dos outros. E somente uma pessoa que não tenha ego é, pela primeira vez, um mestre; ele deixa de ser um escravo. Tente entender isso. E comece a procurar o ego - não nos outros, isso não é da sua conta, mas em você.
Toda vez que se sentir infeliz, imediatamente feche os olhos e tente descobrir de onde a infelicidade está vindo, e você sempre descobrirá que o falso centro entrou em choque com alguém. Você esperava algo e isso não aconteceu. Você espera algo e justamente o contrário aconteceu - seu ego fica estremecido, você fica infeliz. Simplesmente olhe, sempre que estiver infeliz, tente descobrir a razão. As causas não estão fora de você.
A causa básica está dentro de você - mas você sempre olha para fora, você sempre pergunta: 'Quem está me tornando infeliz?' 'Quem está causando a minha raiva?' 'Quem está causando a minha angústia?' Se você olhar para fora, você não perceberá. Simplesmente feche os olhos e sempre olhe para dentro.
A origem de toda a infelicidade, da raiva e da angústia, está oculta dentro de você, é o seu ego. E se você encontrar a origem, será fácil ir além dela. Se você puder ver que é o seu próprio ego que lhe causa problemas, você vai preferir abandoná-lo - porque ninguém é capaz de carregar a origem da infelicidade, uma vez que a tenha entendido. Mas lembre-se, não há necessidade de abandonar o ego. Você não o pode abandonar.
E se você tentar abandoná-lo, simplesmente estará conseguindo um outro ego mais sutil, que diz: 'tornei-me humilde'... Todo o caminho em direção ao divino, ao supremo, tem que passar através desse território do ego. O falso tem que ser entendido como falso. A origem da miséria tem que ser entendida como a origem da miséria - então ela simplesmente desaparece. Quando você sabe que ele é o veneno, ele desaparece. Quando você sabe que ele é o fogo, ele desaparece. Quando você sabe que esse é o inferno, ele desaparece. E então você nunca diz: 'eu abandonei o ego'. Você simplesmente irá rir de toda essa história, dessa piada, pois você era o criador de toda essa infelicidade... É difícil ver o próprio ego.
É muito fácil ver o ego nos outros. Mas esse não é o ponto, você não os pode ajudar. Tente ver o seu próprio ego. Simplesmente o observe. Não tenha pressa em abandoná-lo, simplesmente o observe. Quanto mais você observa, mais capaz você se torna. De repente, um dia, você simplesmente percebe que ele desapareceu. E quando ele desaparece por si mesmo, somente então ele realmente desaparece. Porque não existe outra maneira. Você não pode abandoná-lo antes do tempo. Ele cai exatamente como uma folha seca. Quando você tiver amadurecido através da compreensão, da consciência, e tiver sentido com totalidade que o ego é a causa de toda a sua infelicidade, um dia você simplesmente vê a folha seca caindo... e então o verdadeiro centro surge. E esse centro verdadeiro é a alma, o eu, o deus, a verdade, ou como quiser chamá-lo. Você pode lhe dar qualquer nome, aquele que preferir."

OSHO, Além das Fronteiras da Mente.

http://www.oshobrasil.com.br/textos.htm

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

SRI RANJIT MAHARAJ
1913-2000

Sri Ranjit Maharaj nasceu a 6 de janeiro de 1913 em Bombaim, Índia. Na sua tenra infância foi um devoto fervoroso de Krishna, mas, aos 12 anos de idade, conheceu Shri Sadguru Siddharameshwar Maharaj, que se tornou seu mestre. Depois, Shri Siddharameshwar também se tornou mestre do venerado sábio indiano Nisargadatta Maharaj.

Siddharameshwar Maharaj constatou o Ser através da meditação, um caminho árduo e longo, que, nas suas próprias palavras, na filosofia indiana se chama Pipilika Marg e significa o "caminho da formiga". Siddharameswar ensinava o "caminho do pássaro", Vihangam Marg. Esse é o caminho da compreensão, o caminho direto para a Auto-Constatação (Auto-Realização). O Caminho do Pássaro também é o ensinamento de Sri Ranjit Maharaj. É bastante interessante que exatamente na mesma época em que o jovem Ranjit se encontrava pela primeira vez com seu mestre, também visitava Siddharameshwar, e era um dos primeiros americanos a fazê-lo, um jovem viajante americano em sua quase disfarçada busca espiritual da iluminação, que ganhou fama anonimamente alguns anos depois no romance intitulado O Fio da Navalha, do famoso autor e dramaturgo britânico W. Somerset Maugham. Narra-se que por ter morado na Índia ele alcançou paz de espírito.

O jovem americano, Larry Darrell, como no romance o denomina Maugham, viajava para Bijapur para encontrar-se com Siddharameshwar e aprender o Vihangam Marg, o caminho do pássaro. O santo contou a Darrell o que Ranjit Maharaj por fim também viria a aprender: "que só por escutar e praticar os ensinamentos do Mestre e refletir a respeito, tal como o pássaro, que voa de uma árvore a outra, é que se pode alcançar rapidamente o Despertar".


PERGUNTAS & RESPOSTAS

PERGUNTA: Quando considero minha verdadeira natureza, fico no "EU SOU", invade-me um sentimento de amor sem causa. Esse sentimento é correto ou ainda é uma ilusão?

MAHARAJ: É o êxtase do Ser. Você sente a presença do "EU SOU". Você se esquece de tudo, dos conceitos e da ilusão. É um estado não-condicional. Essa felicidade aparece quando você se esquece do objeto, mas na felicidade ainda há um pequeno toque do eu. Afinal, é ainda um conceito. Quando você se cansa do mundo externo, você quer ficar só, para estar consigo mesmo. É a vivência de um estado mais elevado, mas ainda faz parte da mente. O Ser não sente prazer nem desprazer. Sem o eu, sem o "EU SOU". O completo esquecimento da ilusão significa que nada é, nada existe. Ela ainda está aí, mas para você ela não tem realidade. É a isso que se chama de Constatação (Realização), ou Auto-Conhecimento. É a constatação do Ser sem o eu.
Se alguém o chama, você diz "Estou aqui", mas antes de dizer "Estou aqui", você estava. A ilusão não pode colar mais alguma coisa na Realidade. Não pode colar algo extraordinário na Realidade, porque a Realidade está na própria base de tudo que existe. Tudo que existe, tudo que você vê, os objetos da sua percepção, tudo se deve à Realidade. A ignorância e o conhecimento não existem. Não existem. Então, como é que você poderá expressá-los?

Quando você objetifica algo, significa que está sentindo alguma coisa. Tão logo sinta alguma coisa, você se afasta de Si, do Ser. Você sente amor, que é melhor que estar na ignorância, mas, afinal de contas, isso ainda é um estado, e um estado é sempre condicionado. O não-condicionado não tem estados. É a experiência da inexistência da ilusão. Tão logo você sinta a mínima existência, isso é ignorância. Isso é muito sutil. Ignorância e conhecimento ambos são sutis. É difícil entender, mas, se você realmente averiguar, chegará a esse estado. Isso é, e sempre foi, mas você não sabe; essa é a dificuldade. Não há um único ponto em que a Realidade não esteja. Você vivencia a existência através dos objetos, mas tudo isso não é nada. É onipresente, mas você não pode vê-lo. Por quê? Porque você é a própria Realidade. Então como pode você se ver? Para ver seu rosto, você precisa de um espelho.

A verdadeira felicidade está dentro de você e não fora. No sono profundo, você é feliz. Esquece-se do mundo. Portanto, a felicidade jaz no esquecimento do mundo. Deixe o mundo ser como é; não o destrua, mas saiba que ele não é. Faça tudo quanto tenha que fazer, mas fique desapegado com a compreensão de que seja lá o que for que você sinta, perceba e alcance é ilusão; não existe, e a sua mente precisa aceitar isso.

Os santos dizem: "Já que tudo é nada, como poderá você ser afetado por este nada, como o nada poderá atingi-lo?" Então, o que fazer? A mente não passa de conhecimento. As pessoas diferenciam a mente do conhecimento, mas isso não é correto. Não há nada no mundo. É ilusão. Só a Realidade existe, e, quando você entender que a ilusão é realmente ilusão, como poderá ela afetá-lo? Como poderá você sequer sentir que ela o afeta? A pétala de lótus origina-se da água; fica em cima d’água, mas não é tocada pela água. Se você verte água sobre ela, a água escorre; a flor não se molha.

Quando você compreende que nada permanece, já não se trata mais do amor. A felicidade do Ser que você sente é ainda o prazer do conhecimento. Primeiro você precisa se conscientizar e depois se tornar a própria Realidade, porque você é Ela. Portanto, não faz mal algum viver na ilusão, no mundo, mas ele não existe, você não é atingido. O lótus permanece na água, mas nem liga para ela.

É assim que você deve vivenciar sua verdadeira natureza. Digo "vivenciar", mas aí essa palavra já não existe, porque ela está além do espaço, além do zero. E as palavras não podem entrar aí; param aí. No Bhagavad Gita, o Senhor Krishna diz: "Para onde as palavras retornam está o meu estado". Ainda assim, ele era rei e reinava, mas sabia que nada existe. Você não sabe que nada pode atingi-lo. Quando sentir que nada o atinge, você estará fora da ilusão. Esse é o ponto culminante da filosofia e você pode chegar lá. Lá, lá não há Mestre nem discípulo, pois ambos são um só. Não existe dualidade. Existe somente a Unidade e nada fica fora dela. Portanto, fique na ilusão, mas por compreensão.

Dois amigos queriam pregar uma peça num outro amigo. Um começou a insultar o outro, mas o outro ria do insulto. O terceiro ficou perturbado e disse: "Como podes rir quando ele está te insultando?" Ele ria porque tinha a chave do jogo, mas o terceiro rapaz não entendia. Do mesmo modo, uma pessoa Realizada, embora viva no mundo, compreende que tudo isto é nada e o que quer que esteja acontecendo, nada está acontecendo. Portanto, ela não é atingida. As pessoas andam sempre com medo do que acontece ou vai acontecer. Temem o que as pessoas vão dizer. Pensam: "O que é que vou fazer? O que vai acontecer comigo?" Lutam ou desfrutam. Todos esses cativeiros se devem à mente.

Aquele que está fora do círculo entende que tudo é nada. Não existe; é apenas ignorância. Diz-se que só quem mergulha fundo no oceano é que pode encontrar a pérola. Quem fica na superfície é levado pela corrente do prazer e do sofrimento. Você deve mergulhar fundo até as profundezas do ilimitado, porque é lá que você está. Nunca pare no limitado. O ouro não liga para as formas que ele assume nos ornamentos; pode ser a forma de um cachorro ou de um deus, ele não se preocupa com a forma. Da mesma maneira, seja indiferente com as coisas, porque elas não existem.

Nada pode atingi-lo. Você é intocado. A mente deve chegar ao ponto de uma compreensão completa da ilusão. Ali jaz o seu estado. Nada permanece para quem compreendeu. Não há mais perda ou ganho. Não pergunte se você pode atingir a Realidade, porque você é a Realidade, então por que dizer: "Será que eu posso?" Primeiro saia do círculo. Largue tudo, uma coisa após outra, e entre fundo em seu Ser. Depois volte e esteja em tudo.

O que você descreveu é um bom estado, não há dúvidas, mas vá um pouco mais adiante. Quando a mente aceita que tudo é ilusão, somente ilusão, então você está no seu Ser. O corpo e a mente são ilusões; você devia ficar contente de saber isso. Desvencilhe-se da identificação com eles. A única coisa que o Mestre faz é dar o seu verdadeiro valor ao Poder que está em você, ao qual você nem presta atenção. Ele não faz nada mais. Era uma pedra, e o Mestre revela a própria natureza dela, que é diamante. Ele faz de você a pedra mais preciosa.

Eu sou onipresente, todo-poderoso, sou o Criador de tudo que existe. Quando você está na base de tudo, você está em tudo. É por isso que nem um assassino pode ser considerado mau. O que quer que esteja acontecendo, é "ordem minha". Seja o senhor, não o escravo! Você é o senhor.

PERGUNTA: Eu gostaria de saber por que algumas pessoas Realizadas reencarnam a fim de ajudar os outros a acordar?

MAHARAJ: Ninguém vem, ninguém vai. Quem lhe contou isso? Você leu livros e repete. Diz-se que o maior homem é aquele que morre desconhecido. Rama e Krishna foram heróis secundários. O homem realizado vive em silêncio e morre em silêncio. Depois, o pensamento dele funciona numa outra pessoa; mas que eles voltam é bobagem. Veja "A Doutrina do Renascimento".

Ninguém vem, ninguém vai. É tudo um sonho. Num sonho você pode se tornar um grande Mestre, mas, quando acorda, você volta ao seu estado normal. Quem foi lá e quem voltou? Não aconteceu nada. O conceito de um grande Mestre passou por você e você virou aquele "grande Mestre", mas, quando acorda, você percebe: "Nossa, tudo isso é absurdo! Como posso eu ser um grande Mestre? Não sei nada!" Mesmo assim, no sonho você dava palestras e falava com facilidade sobre todas essas coisas, mas, quando chega o despertar, todo conhecimento se esvai. Era um sonho.

De onde ele veio e aonde desapareceu? Quando nada existe, tudo são apenas crenças e conceitos da mente. O suposto sábio que diz "Eu sou a reencarnação de Deus" não o conhece, não conhece a Realidade. Ao contrário, é escravo do seu ego, da ilusão. Quando o próprio conhecimento não tem entidade, não vêm à baila todas essas coisas.

Aquele que compreende, livra-se de tudo. Uma pessoa assim parece comum, mas seu coração é bem diferente. Se ficar do lado de fora, como você poderá entender? Para se tornar o dono da casa, você precisar entrar nela. Da mesma maneira, você precisa penetrar o seu próprio Ser para tornar-se o dono. Mas aí o "eu" não permanece "eu". Não mais se trata de Mestre ou discípulo. O pensamento em um Mestre pode inspirar quem quer que assuma um corpo porque ele e o Sábio são unos. Penetre o coração do Realizado e você não permanecerá como "Você", porque só ele é. É por isso que se diz que aqueles que ensinam são reencarnações de Deus. O Mestre passa o ensinamento a todos, mas não o valoriza, porque sabe que o conhecimento é a maior ignorância. Portanto não se deixe tocar por nada.

PERGUNTA: Se tudo é ilusão, você mesmo é uma ilusão?

MAHARAJ: Ah, sim! Eu sou a maior ilusão! Tudo que digo de todo o coração e com tanta franqueza é tudo falso! Mas o falso ‘eu’ pode fazer você alcançar esse ponto. O endereço da pessoa não é o objetivo. Quando você chega à casa, é graças ao endereço que lhe deram, o endereço é verdadeiro somente até o momento em que você entra na casa. Assim que você entra, desaparece o endereço. As palavras não passam de indicações; não têm nenhuma realidade em si mesmas. Se o ‘eu’ permanece, eu também sou ilusão. Não permaneça como ‘eu’. Essa é a mais alta compreensão da filosofia. O santo Tukaram dizia: "Vi a minha própria morte, e o que vi lá, a alegria que se revelou, isso eu conheço". Antes de tudo, você precisa morrer. "Você" significa ilusão.

Por isso, o que digo é falso, todavia verdadeiro, porque eu falo daquilo. O endereço é falso, mas, quando você atinge o objetivo, é a Realidade. Da mesma maneira, todas as escrituras e os livros filosóficos destinam-se apenas a indicar esse ponto, e, quando você o atinge, eles se tornam inexistentes, vazios. As palavras são falsas; só o sentido que elas comunicam é que é verdadeiro. Portanto, tudo é ilusão, mas, para compreender a ilusão, é preciso ilusão. Por exemplo, para tirar um espinho do dedo, você utiliza outro espinho; depois joga fora os dois. Mas, se você guardar o segundo espinho que utilizou para remover o primeiro, certamente você estará de novo preso. Para remover a ignorância, é preciso conhecimento, mas por fim ambos devem dissolver-se na Realidade. O seu Ser é sem ignorância nem conhecimento.

Portanto, o Mestre e o buscador são ilusões, porque ambos são um só. Se você guardar o segundo espinho, que significa conhecimento, nem que seja um espinho de ouro, você estará preso (pelo segundo espinho). O ego é a única ilusão, e ego é conhecimento. Conta-se que para apanhar um ladrão é preciso tornar-se um ladrão. Então você poderá dizer-lhe: "Cuidado, eu estou aqui e sei que você é ladrão; portanto, não poderá me roubar". Mas você não pode apanhar o ladrão porque ele tem quatros olhos e você só tem dois. Num relance, o ladrão percebe os objetos de valor e, se você não estiver atento, ele lhos rouba. A ilusão é como o ladrão, de modo que você precisa ser mais forte do que o ladrão. A sua mente precisa aceitar que tudo é ilusão, somente ilusão. Então você será o "maior dos maiorais".

O conhecimento é uma grande coisa, mas deve ser apenas um remédio. Quando a febre baixa graças ao remédio que você tomou, você deve parar de tomá-lo. Não prolongue o tratamento, senão você criará mais problemas. O conhecimento só é necessário para remover o mal da ignorância. O médico sempre prescreve uma dosagem limitada! Antes de tudo, compreenda que o ‘eu’ é uma ilusão e o que ‘eu’ diz é ilusão. O Mestre e o que ele diz também são ilusão, porque na Realidade, ‘eu’ e ‘Ele’ não existem mais. Vá fundo para dentro de si, tão fundo até você desaparecer. Caso contrário, veja o que acontece. Entra um bode em sua casa, e, para fazê-lo sair, você abre a porta. O bode sai, mas entra um camelo. O camelo é apenas como a ilusão. Portanto, fique fora da ilusão.

SRI RANJIT MAHARAJ

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Nisargadatta Maharaj

O que vem e vai não tem nenhum ser

Pergunta: Tenho vindo mais para estar com você do que para escutá-lo. As palavras podem dizer muito pouco, muito mais pode ser comunicado em silêncio.

Maharaj: Primeiro palavras, depois silêncio.Deve-se estar maduro para o silêncio.

P: Posso viver em silêncio?

M: O trabalho altruísta leva ao silêncio porque, quando você trabalha sem egoísmo, não necessita pedir ajuda. Sendo indiferente aos resultados se está disposto a trabalhar com os meios mais inadequados. Não há a preocupação de estar muito bem preparado e bem equipado. Nem tampouco pede reconhecimento ou assistência, simplesmente faz o que pode e o que é necessário fazer, deixando o êxito ou o fracasso ao desconhecido. Tudo é causado por inumeráveis fatores, dos quais o esforço pessoal é apenas um. Às vezes, pela magia da mente e do coração humanos, o mais improvável acontece quando a vontade e o amor humanos cooperam.

P: O que está errado em pedir ajuda quando o trabalho vale a pena?

M: Onde está a necessidade de pedir ajuda?Isto meramente mostra fraqueza e ansiedade.Trabalhe, e o universo trabalhará com você.Depois de tudo, a própria idéia de fazer ocorreto lhe chega do desconhecido. No que dizrespeito aos resultados, deixe-os ao desconhecido; passe simplesmente pelos movimentos necessários. Você é só um elo na longa cadeia de causação. Essencialmente, tudo acontece apenas na mente. Quando você trabalha por algo com todo seu coração e firmeza, este algo acontece, já quea função da mente é fazer que aconteçam as coisas. Na realidade, nada falta e nada é necessário, todo trabalho só existe na superfície. Nas profundezas, há uma perfeita paz.Todos os problemas surgiram porque você definiu a si mesmo e, portanto, limitou-se. Quando não pensa que você é isto ou aquilo, todo conflito cessa. Qualquer tentativa de fazer algo que solucione os seus problemas fracassará, pois o que é causado pelo desejo só pode ser desfeito pela liberação do desejo. Você se encerrou no tempo e no espaço, comprimiu-se ao lapso de duração de uma vida e ao volume de um corpo, e criou assim os inumeráveis conflitos da vida e da morte, do prazer e da dor, da esperança e do medo. Não pode libertar-se dos problemas sem abandonar as ilusões.

P: Uma pessoa é naturalmente limitada.

M: Não existe a pessoa. Existem apenas restrições e limitações. A soma total destas define a pessoa. Você crê que conhece a si mesmo quando sabe que você é . Mas você nunca sabe quem é. A pessoa meramente parece ser, como o espaço dentro do pote parece ter a forma, o volume e o odor do pote. Veja que você não é o que você acredita ser. Lute com todas as forças de que dispõe contra a idéia de que você pode ser nomeado ou descrito. Não é assim. Negue-se apensar em si mesmo em termos disto ou daquilo.Não existe outra saída da miséria, que você criou para si mesmo, através da cega aceitação sem investigação. O sofrimento é uma chamada ; toda dor necessita investigação. Não seja preguiçoso para pensar.

P: A atividade é a essência da realidade. Não há virtude em não trabalhar. Junto com o pensamento, alguma coisa deve ser feita

M: Trabalhar no mundo é duro, privar-se detodo trabalho desnecessário é ainda mais duro.

P: Para a pessoa que sou, tudo isto parece impossível.

M: O que você sabe sobre si mesmo? Você só pode ser o que é na realidade; você só pode parecer o que não é. Você nunca se afastou da perfeição. Toda a idéia de melhoramento é convencional e verbal. Assim como o sol não conhece a escuridão, o ser não conhece o não-ser. É a mente que, por conhecer o outro, torna-se o outro. Mesmo assim, a mente é nada mais que o ser. É o ser que se torna o outro, o não-ser, eainda assim permanece sendo o ser. Tudo o mais é suposição. Do mesmo modo que uma nuvem escurece o sol sem afetá-lo de qualquer modo, a suposiçao obscurece a realidade sem destruí-la. A própriaidéia de destruição da realidade é ridícula; o destruidor sempre é mais real que o destruído. A realidade é o destruidor final. Toda separação, toda espécie de afastamento e alienação, é falsa. Tudo é um – esta é a solução final para todo conflito.

P: Como é que, apesar de tanta instrução e assistência, não progredimos?

M: Enquanto imaginarmos que somos personalidades separadas, totalmente aparte das outras, não podemos compreender a realidade que é essencialmente impessoal. Primeiro devemos conhecer-nos como testemunhas apenas, centros de observação sem dimensão e atemporais, e então compreender este imenso oceano de Consciência queé, ao mesmo tempo, a mente e a matéria, e está além de ambas.

P: Seja o que for na realidade, eu me sinto uma pessoa pequena e separada, uma entre muitas.

M: A idéia de ser uma pessoa se deve à ilusão do tempo e do espaço; você se imagina em um certo ponto e ocupando um certo volume; suapersonalidade é resultado de sua identificação com o corpo. Seus pensamentos e sentimentos existem em sucessão, têm sua duração no tempo, com que você imagine a si mesmo, devido à memória, como tendo uma duração. Na realidade, otempo e o espaço existem em você, mas você não existe neles. São modos de percepção, mas não sao os unicos. O tempo e o espaço são como palavras escritas no papel; o papel é real; as palavras, uma mera convenção. Que idade você tem?

P: Quarenta e oito anos!

M: O que o faz dizer quarenta e oito anos? Oque o faz dizer: estou aqui? Hábitos verbais nascidos de suposições. A mente cria o tempo e o espaço e entende suas próprias criações como realidade. Tudo está aqui e agora, mas não . Verdadeiramente, tudo existe em mim e sobre mim. Não há nada mais. A própria idéia de"outro" é um desastre e uma calamidade.

P: Qual é a causa da personificação, da auto-limitação no tempo e no espaço?

M: Aquilo que não existe não pode ter uma causa. Não existe uma pessoa separada. Ainda do ponto de vista empírico, é óbvio que tudo é causade tudo, que tudo é como é porque o universo inteiro é como é.

P: Mas a personalidade deve ter uma causa.

M: Como chega a existir a personalidade? Pela recordação. Ao identificar o presente com opassado e projetando-o no futuro. Pense em si mesmo como algo momentâneo, sem passado oufuturo, e sua personalidade se dissolve.

P: O "eu sou" não permanece?

M: A palavra "permanece" não se aplica aqui."Eu sou" sempre é novo. Você não necessita recordá-lo para que seja. De fato, antes de que você possa experimentar qualquer coisa,deve existir o sentido de ser. Neste momento, seu ser está misturado com as experiências. Tudo o que você necessita é desatar o ser do nó das experiências. Uma vez que tenha conhecido o ser puro, sem ser isto ou aquilo, você o distinguirá entre as experiências e não será mais enganado pelos nomes e pelas formas. A auto-limitação é a própria essência da personalidade.

P: Como posso tornar-me universal?

M: Mas você já é universal. Você não necessita nem pode tornar-se o que já é. Só deixe de imaginar que você é o particular. O que vem e vai não tem ser. Ele deve sua própria aparição à realidade. Você sabe que existe um mundo, mas o mundo conhece você?Todo conhecimento flui de você, assim como todo ser e toda alegria. Compreenda que você é afonte eterna, e aceite tudo como próprio. Tal aceitação é verdadeiro amor.

P: Tudo o que diz soa muito bonito. Mas como alguém pode fazer disto um modo de vida?

M: Sem nunca ter abandonado a sua casa, está perguntando pelo caminho para casa. Livre-se das falsas idéias, isso é tudo. Juntar idéias corretas não o levará a nenhum lugar. Simplesmente deixe de imaginar.

P: Não é uma questão de realização mas de entendimento.

M: Não tente entender! É suficiente que não entenda mal. Não confie em sua mente para alcançar a liberação. É a mente a que o levou à escravidão. Vá além dela de uma vez. O que não tem princípio não pode ter uma causa. Não é que você soubesse o que era e então esqueceu. Uma vez que saiba, não pode esquecer. A ignorância não tem princípio, mas pode ter fim.Investigue quem é ignorante, e a ignorância se dissolverá como um sonho. O mundo está cheio decontradições, daí que você busca a harmonia e apaz. Mas estas não podem ser encontradas no mundo, pois o mundo é filho do caos. Paraencontrar ordem tem que buscar dentro de simesmo. O mundo aparece só quando você nasce em um corpo. Sem corpo não há mundo. Primeiro investigue se você é o corpo. A compreensão do mundo chegará depois.

P: O que você diz soa convincente, mas paraque serve à pessoa em particular, para quem sabe que está no mundo e é do mundo?

M: Milhões de pessoas comem pão, mas poucos conhecem tudo sobre o trigo. E só aqueles que sabem podem melhorar o pão. De modo similar, que conhecem o ser, que viram além do mundo, podem melhorar o mundo. O valor que eles têm para as pessoas é imenso, já que são sua única esperança de salvação. O que está no mundo não pode salvar o mundo; se realmente se interessa em ajudar o mundo, deve sair dele.

P: Mas pode alguém sair do mundo?

M: Quem nasceu primeiro, você ou o mundo?Enquanto der prioridade ao mundo, estará limitado por ele; uma vez que compreenda, sem o menor traço de dúvida, que o mundo está em você e não você no mundo, você está fora dele. Certamente, seu corpo permanece no mundo e do mundo, mas é enganado por ele. Todas as escrituras , antes de que o mundo fosse, o criador era.Quem conhece o criador? Só o que existia antes do criador, seu próprio ser real, a origem de todos os mundos com seus criadores.

P: Tudo o que você diz é mantido pelo sua compreensão de que o mundo é sua própria projeção. Você admite que se refere a seu próprio mundo pessoal, subjetivo, o mundo dado a você através de sua mente e seus sentidos. Nesse sentido cada um de nós vive em um mundo de projeção. Estes mundos se tocam uns com os outros e surgem, e se dissolvem, no "eu sou" em seu centro. Mas, com toda certeza, por trás destes mundos privados, há de existir um mundo objetivo, comum, do qual os mundos privados são meras sombras.Nega você a existência de tal mundo objetivo, comum a todos?

M: A realidade não é nem objetiva nem subjetiva, nem matéria nem mente, nem tempo nem espaço. Estas divisões necessitam de alguém a quem acontecer, um centro consciente separado.Mas a realidade é tudo e nada, a totalidade e a exclusão, a plenitude e o vazio, totalmente consistente, absolutamente paradoxal. Você não pode falar sobre ela, pode apenas perder seu ser nela. Quando você nega realidade a tudo, chega a um resíduo que não pode ser negado.Toda conversa sobre gnana é um sinal de ignorância. É a mente que imagina que não sabe e então vem a saber. A realidade não conhece nada destas contorções. Mesmo a idéia de Deus como criador é falsa. Devo meu ser a qualquer outro ser? Por que eu sou, tudo é.

P: Como é possível? Uma criança nasce dentro do mundo, não o mundo na criança. O mundo é velho e a criança, nova.

M: A criança nasce dentro de seu mundo. Agora, você nasceu dentro do mundo, ou o mundo apareceu a você? Nascer significa criar um mundo ao redor de você como o centro. Mas você criou a você mesmo? Ou alguém criou você? Todos criam um mundo para si mesmos e vivem nele, aprisionados pela própria ignorância. Tudo o que temos que fazer é negar realidade a nossa prisão.

P: Justamente como o estado de vigília existe no sonho em forma de semente, assim o mundo que acriança cria ao nascer existia antes de seu nascimento. Com quem repousa a semente?

M: Com aquele que é testemunha do nascimentoe da morte, mas nem nasce nem morre. Só ele é a semente da criação assim como seu resíduo. Não peça à mente que confirme o que está além dela. A experiência direta é a única confirmação válida.----------